Palestra sobre governança foca no case Americanas e nas métricas de autoavaliação

 Governança foi um dos temas abordados na programação da 6ª Convenção Nacional do Grupo ABAD Jovens e Sucessores. A palestra técnica, comandada por Alessandro Dessimoni, sócio da Dessimoni e Blanco Advogados, trouxe detalhes do case da Americanas, companhia que devido a fraudes entrou em recuperação judicial. O executivo também apresentou aos jovens sucessores presentes uma importante métrica para autoavaliação corporativa que está disponível gratuitamente no portal do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Ao introduzir o assunto, Dessimoni relembrou como a temática passou a fazer parte do mercado corporativo. Em 2004 a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou um pacto global que estabeleceu metas ambientais, sociais e de governança que deveriam ser perseguidas pelo mundo para serem alcançadas até 2030.

“A história começou lá atrás e ainda temos um desafio gigantesco, pois falta pouco tempo. Porém, o mercado entende que práticas de governança tornam nossos negócios mais perenes, valiosos e com longevidade. Não temos dúvidas quanto a importância de exercer essas práticas”, pontuou.

Para exemplificar, Dessimoni trouxe um case emblemático a que todos tiveram acesso recentemente: a queda da Americanas que, no início de 2023, comunicou a detecção de inconsistências de cerca de R$ 20 bilhões nos lançamentos contábeis da companhia, o que viria a se tornar o início de uma das maiores fraudes da história corporativa brasileira.

“Com acionistas de referência que eram sócios de diversas outras empresas de nível global, uma diretoria, um CEO, vários comitês, inclusive um de auditoria, uma auditoria externa e 19 políticas empresariais descritas no site da companhia a exemplo de código de conduta e de ética. Se não faltavam elementos e estrutura de governança, o que aconteceu com a Americanas?”, questionou.

Com a queda da companhia, que entrou em recuperação judicial – lembrando que apenas 6% das empresas no Brasil conseguem sair dessa situação – Dessimoni apontou, como consequências, o desmoronamento dos valores da empresa e o prejuízo aos colaboradores, ponto que nem sempre foi enfatizado nas análises do case frente à mídia.

“Imaginem todos os executivos que ganhavam, como bônus, ações da própria companhia, aqueles colaboradores que trabalharam por 30 anos acumulando ações e, de uma hora para outra, viram essas ações caírem de R$ 12 para zero. A queda da Americanas queimou a aposentadoria de diversas pessoas”, disse.

Em uma análise particular, o executivo declarou que o modelo de redução agressivo de custos, buscando resultados de curto prazo e deixando, de lado, o capitalismo de stakeholder, onde as organizações procuram criar valores de longo prazo, tendo sempre em pauta os interesses de todos os envolvidos, e o Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade) foram desencadeadores da crise.

Além disso, colocou em questionamento a discrepância entre a teoria e a prática. “Não adianta contar com toda a estrutura de governança e com todas as regras bem definidas se não há um monitoramento. Alguém encobriu uma fraude que foi permanecendo. O case da Americanas nos mostra a importância de termos um sistema de governança, mas de a colocarmos em prática no dia a dia”, pontuou.

Para esse monitoramento, fundamental ao controle das companhias, Dessimoni trouxe uma ferramenta que está disponível gratuitamente no portal do IBGC. “Temos uma métrica que pode ser aplicada a todas as empresas. Ao acessar o sistema e responder às perguntas, a companhia conseguirá ver qual o seu nível de maturidade em governança”, explicou. O acesso pode ser feito AQUI e permite, aos executivos, um diagnóstico a ser utilizado como base para entender a situação atual e traçar objetivos futuros, visto que a análise pode ser feita anualmente para observar quais os avanços e os desafios impostos no período.

Para encerrar o tema, o executivo apresentou o case de uma empresa de distribuição do nordeste que tinha problemas como a ausência de todos os sócios no contrato social, membros que tinham pro-labore, mas não desempenhavam funções ativas na organização e, por ser uma empresa familiar, decisões tomadas de maneira informal, sem atas, conselhos, comitês, regulamentos e políticas.

“Fizemos uma proposta operacional, com holdings, regras de remuneração, formalização e entrada dos sócios em cada uma das holdings familiares e a criação de comitês de auditoria e governança”, disse Dessimoni. Dessa forma, foram tomadas ações para minimizar as falhas de segurança corporativa da companhia utilizando, como base, o Modelo de 3 Círculos para empresas familiares desenvolvido em 1978 por John Davis e Renato Tagiuri. O diagrama mostra como família e negócios têm poder de influência mútuo, gerando a necessidade de alinhar metas e interesses para as duas pontas.

A 6ª edição da Convenção Nacional do GAJS foi realizada em 26 de novembro no Clube Monte Líbano, em São Paulo, e reuniu renomados profissionais e multiplicadores de informações apresentando visões sobre questões de grande importância para o jovem sucessor do atacado distribuidor.

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