Endividamento da classe média não impede perspectiva positiva da economia, diz Zeina Latif

O Momento Econômico na edição 2023 do Encontro de Valor ABAD foi conduzido pela economista Zeina Latif. A especialista apresentou aos principais executivos da cadeia de abastecimento brasileira presentes no evento detalhes sobre o comportamento do consumidor, os impactos setoriais, a importância de compreensão das diferenças regionais e quais as perspectivas futuras para o país.

O primeiro assunto abordado por Zeina envolve as dificuldades atuais da classe média brasileira, cujo poder aquisitivo já é naturalmente mais baixo. “A nova classe média está no aperto”, disse, enfatizando que todas as reformas para dinamizar o mercado de trabalho, prover educação de qualidade para que as pessoas busquem empregos com salários mais altos e melhorar a qualidade de vida são agendas essenciais para o Brasil.

Apresentando dados sobre o endividamento populacional, a economista afirmou que chegamos, recentemente, a patamares recordes, e que é possível notar que as famílias estão segurando gastos para reequilibrar as contas domésticas. “O comprometimento da renda faz com que as pessoas sejam mais cautelosas no consumo e reservem parte da renda anual para honrar o serviço da dívida”, salientou. Com isso, setores mais dependentes do crédito sofrem mais, um quadro que desperta preocupação.

Crescimento modesto

De forma parcialmente otimista, Zeina relata que existem sinais que mostram que em breve poderemos respirar mais aliviados. “Hoje temos um quadro econômico que poderia estar melhor, mas onde há um crescimento modesto”, pontuou.

A especialista busca um comparativo para ser possível visualizar vitórias. “Se olharmos a experiência argentina, vamos reconhecer os avanços do nosso país”, comentou. A Argentina, que acaba de eleger Javier Milei para presidente, enfrenta um cenário dramático com a inflação descontrolada que levou a um aumento de preços de mais de 130% nos últimos 12 meses, desvalorização da moeda local, e 40% da população na zona de pobreza.

Por aqui, as taxas de juros entram em debate e a economista reforça que são necessários dois trimestres para que a sociedade consiga sentir reduções propostas pelo Banco Central, que apesar de a inflação ainda não estar dentro da meta, já tem condições de reduzir esses índices. “Temos notado que o aumento dos juros tem machucado menos a economia do que machucava no passado. Porém, precisamos trabalhar, visualizar esforços do governo com apoio do setor privado, para ajuste das contas públicas e juros mais baixos”, disse.

Apesar de, por vezes, traçar alguns comparativos internacionais, Zeina reforça que é preciso enxergar as particularidades do Brasil e lista dois exemplos. O primeiro a respeito a uma característica interessante do nosso país. Segundo ela, há um descolamento do comércio varejista com relação ao resto da economia quando se traçam análises econômicas. “Esse descolamento ocorre por fatores estruturais como mudanças de costumes, opção por maior consumo de serviços, mas também existem fatores conjunturais como o fraco ritmo de crescimento e a piora da distribuição de renda”, comentou.

Outro ponto destacado por Zeina refere-se à necessidade de identificar as diferenças regionais. “Pernambuco tem, por exemplo, uma taxa de desemprego de 14%. Enquanto isso, em Rondônia não passa de 2,5%. Nas regiões do agronegócio, se aproxima de 5%. Por qual motivo as pessoas por aqui não estão migrando em busca de oportunidades melhores?”, questiona. Segundo ela, as diferenças de taxas de emprego no Brasil são maiores do que em toda a Europa.

Por fim, durante o debate promovido entre Zeina, o presidente da ABAD, Leonardo Miguel Severini, e outras lideranças do setor como José Rodrigues da Costa Neto, vice-presidente da ABAD e proprietário do Grupo JC Distribuição; Paulo Solmucci Júnior, presidente executivo da Abrasel; João Carlos de Oliveira, presidente da GS1; e Rubens Batista, CFO do Grupo Martins, a especialista entrou em mais alguns fatores que impactam a economia brasileira diretamente.

“A competição, no nosso país, é afetada pela falta de políticas horizontais e pelo custo Brasil altíssimo, gerando insegurança jurídica. Sofrem, principalmente, as pequenas e médias empresas que têm dificuldades para entrar no mercado e, posteriormente, para sobreviver”, declarou.

Por fim, sobre a reforma tributária, tema amplamente discutido durante o Momento Político, Zeina enfatizou que uma reforma que reduza a cumulatividade é importantíssima para a indústria e que o investimento em reformas horizontais são até mais importantes do que uma política industrial.

Veja fotos na GALERIA, e abaixo, o vídeo do evento:

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