O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta (2) que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre veio “de lado” durante o período mais trágico da pandemia. Já a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia elencou o risco hídrico, entre outras questões, como uma das principais ameaças à retomada no segundo semestre.
“Foi 0,05% a queda do PIB. Quando dá 0,05% é arredondado para 0,1%. Mas se desse 0,04% ia ser zero”, afirmou Guedes. Segundo ele, com a retomada do auxílio emergencial em abril, o governo federal manteve no segundo trimestre “a responsabilidade fiscal de um lado e o compromisso com a saúde do outro”.
O ministro reforçou que, em sua visão, a economia voltou em formato de V. “Estamos crescendo novamente”, disse.
Para Guedes, o PIB brasileiro deve se expandir 5,3% ou 5,4% neste ano e pode “crescer bastante” também no ano que vem.
Ele criticou o que chamou de conversa “derrotista” de que o Brasil não vai crescer, mas voltou a destacar que a crise hídrica é uma questão a ser observada.
Para a SPE, o risco hídrico é uma ameaça à retomada da atividade na segunda metade do ano. Em nota, a secretaria também citou o recrudescimento da pandemia e o abandono da consolidação fiscal como outros fatores de risco.
Já entre os elementos que podem impulsionar a retomada neste ano, a SPE destacou: maior crescimento global, investimento financiado principalmente pelo setor privado, aumento da taxa de poupança, mercado de crédito e de capitais em expansão e recuperação do emprego formal e informal, com a vacinação em massa. A expectativa da SPE é que, no ano, o PIB aumente mais do que 5%.
“O resultado reforça a necessidade de insistirmos na agenda da consolidação fiscal e das reformas pró-mercado”, disse ao Valor o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida. Ele disse que o setor de serviços e o investimento privado vão liderar a retomada na segunda metade do ano. Para tanto, é preciso prosseguir com a vacinação em massa.
O avanço do investimento privado foi apontado pelo secretário como demonstração da qualidade do processo de retomada da economia. Para ele, esse é um dado mais importante do que o próprio resultado do PIB.
Sachsida também negou que o desempenho da economia no segundo trimestre tenha ficado muito abaixo do esperado. As estimativas de mercado eram de um avanço de 0,2%. Considerando que o segundo trimestre foi o mais trágico da história da saúde pública no Brasil, a economia demonstrou resiliência, avaliou.
A nota da SPE não detalhou os possíveis impactos do risco hídrico, mas ressaltou os avanços na política fiscal, citando que o déficit primário nas contas públicas deve cair de 1,8% do PIB neste ano para 0,5% do PIB em 2022. “Fundamentos fiscais mais sólidos permitem ancoragem das expectativas de inflação, redução estrutural da taxa de juros e menor risco-país.”
Também determinantes para o crescimento de longo prazo são as reformas pró-mercado, mencionando abertura econômica, privatizações e concessões, melhora dos marcos legais e aumento da segurança jurídica, melhor ambiente de negócios e redução da burocracia, correção da má alocação de recursos e facilitação da realocação de capital e trabalho na economia.
A nota ressaltou o papel do setor de serviços no segundo trimestre, com alta de 0,7% sobre o trimestre anterior, explicado em boa parte pelo avanço da vacinação. A expectativa da SPE é que esse processo de recuperação continue.
Na indústria de transformação, a perspectiva é positiva, segundo a secretaria. Os índices de confiança medidos pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) estão elevados. O índice da intenção de elevação do investimento para os próximos seis meses está próximo aos maiores valores desde 2014.
Em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, minutos após a divulgação do PIB pelo IBGE, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o resultado do segundo trimestre deve diminuir a projeção mediana do mercado, colhida pelo Boletim Focus, para o crescimento deste ano. Atualmente, a estimativa mediana é de alta de 5,22% para o PIB de 2021.
“A gente provavelmente deve ter uma revisão um pouco para baixo no ano corrente”, disse.
Campos lembrou que o BC já projetava “um crescimento um pouco abaixo do que o mercado esperava” para 2021. De acordo com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado em junho, fonte dos números mais recentes, a autoridade monetária calcula alta de 4,6% para o PIB. Segundo Campos, o resultado da economia no segundo semestre “veio mais ou menos em linha com o que o BC achava”.
Fonte: Valor online