O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, afirmou que “o próximo ano será cheio de desafios, volátil, mas com certeza também cheio de oportunidades, não apenas no mercado financeiro como também para a economia real”. Na palestra realizada no Encontro de Valor ABAD ele salientou que haverá um período de ajuste por conta da inflação, mas, depois da correção de rumo, haverá melhores perspectivas de crescimento.
O economista pontuou que o mundo está entrando na terceira fase do período pós-chegada da pandemia. “A primeira onda, o primeiro impacto, fez com que o PIB global de 2020 fosse muito negativo, com queda de mais de 3%.”
Depois vieram os programas de transferência de renda, desenhados para permitir que as pessoas mantivessem o isolamento social. Com isso, entre meados de 2020 e o começo do segundo semestre de 2021, o mundo entrou numa segunda fase, de rápida retomada. “A economia americana chegou a crescer quase 10%, China mais de 8% e o Brasil deve crescer quase 5% este ano.”
“Mas está chegando a terceira fase, com inflação acelerando porque a demanda voltou a crescer forte enquanto a oferta não conseguiu acompanhar, em parte por conta da falta de insumos, elevação dos custos de produção, principalmente energia e transporte, além de retirada gradual dos estímulos monetários que ajudavam a manter a economia em funcionamento, inclusive com aumento nas taxas de juros”, explica Megale. Assim, 2022 será um ano de economia pressionada, com inflação em elevação e crescimento menor.
No Brasil, aparentemente, a pandemia por enquanto está sob controle, diferentemente do que vem acontecendo na Europa e nos EUA, principalmente em razão do alto índice de vacinação no país. Por isso, o comércio está reabrindo, as pessoas voltam a circular e retomar a rotina pré-pandemia. “Além disso, o impacto do auxílio emergencial, em 2020, foi bastante positivo na economia, mais do que compensando a queda de renda do trabalho e ajudando a manter o consumo forte”, completou.
Olhando por setores, desde março deste ano, a retomada se mostra heterogênea, com queda no desempenho da indústria e alguns picos, mas atual queda da atividade do varejo e crescimento do setor de serviços, mas já com alguma perda de fôlego.
“Depois de surpreender positivamente em 2021, com crescimento acima do previsto, o Brasil deverá ter PIB negativo em 2022, principalmente a partir do segundo trimestre”, afirmou o economista. “Se lá fora a inflação é um problema, aqui é um problema turbinado, inclusive porque a taxa de câmbio depreciada que faz com que os preços internacionais já cheguem aqui mais elevados.”
Por conta disso, avalia Megale, a taxa de juros real, que no início deste ano estava perto de zero, deve chegar ao fim de 2021 em torno de 6% ou 6,5%, com uma inflação de 5% a 5,5%. “Assim, o ano que vem será um ano de ajuste.”
Sobre a questão fiscal, o economista destaca que, no curto prazo, os dados fiscais estão bons, devido à alta na arrecadação de impostos. “Mas a previsão de alta nos valores de precatórios para os próximos anos deve mudar esse cenário.”
Um país que tem endividamento crescente e gastos crescentes resulta ou em inflação ou em aumento de impostos, para que se possa fechar as contas. Além disso, não se pode esquecer que 2022 é ano de eleição presidencial, o que gera alguma incerteza em qualquer lugar do mundo. “Todas essas circunstâncias tornam o cenário do ano que vem mais nebuloso, e ajudam a provocar a desaceleração do PIB”, diz Megale.
Para além do ano que vem, contudo, olhando mais no longo prazo, as expectativas se voltam para as reformas aprovadas e em aprovação pelo Legislativo, que já ajudam a destravar uma série de investimento e devem ser a grande alavanca do crescimento futuro, especialmente a reforma tributária.
“A reforma tributária é complexa e envolve muito debate entre vários segmentos. Como estamos no fim do mandato presidencial, é possível que não se consiga votá-la ainda nesta gestão, mas ela é importante e certamente vai estar amadurecida para votação no próximo mandato, seja qual for o presidente eleito”, analisa o economista.
“É preciso olhar também a disciplina fiscal de curto prazo, para que não haja incêndios para apagar o tempo todo, mas parece que essa questão também está bastante amadurecida”, complementa.
“Não tenho dúvida de que conseguindo lidar com o cenário fiscal e com a inflação, o país conta com a força da economia real, das empresas, do nosso mercado interno diversificado para alcançar as melhores perspectivas possíveis. Depende de sermos capazes de arrumar a casa neste momento difícil e colocarmos o trem de volta nos trilhos”, finaliza.
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