Em nova reunião realizada em 12 de março, em São Paulo, o Comitê ESG da ABAD deu continuidade aos debates sobre como instituir uma agenda ambiental, social e de governança na cadeia de abastecimento. Sob a liderança do presidente da Associação, Leonardo Miguel Severini, o coordenador do comitê, Alessandro Dessimoni, conduziu o evento que reuniu representantes de indústrias, empresários atacadistas e distribuidores e do Instituto ABAD.
Dessimoni fez uma rápida introdução sobre os trabalhos do comitê, enfatizando que as três cartilhas propostas nas primeiras reuniões estão sendo desenvolvidas e devem ser apresentadas na Convenção ABAD 2024. São elas: PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), Diversidade e Equidade e Governança.
“Quando iniciamos nossa discussão sobre ESG, a ideia era mapear e criar uma linha base do que estava sendo feito no setor. Depois, fomos obrigados a pensar em como transferir conhecimento dentro da cadeia de abastecimento. Por isso optamos pela construção dessas três cartilhas”, explicou.
Na sequência, foram apresentados os temas pertinentes aos três pilares do ESG:
Ambiental
No pilar de sustentabilidade ambiental, o Comitê propôs um projeto-piloto para implementação de PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) no pequeno varejo. Gustavo Fonseca, diretor da BAGA, apresentou a ação que visa otimizar o sistema de logística reversa, principalmente em regiões onde há baixa disponibilidade para recolhimento de resíduos recicláveis.
“As iniciativas seguem sobrepostas. Os pontos de coleta voluntária em supermercados, bem como a coleta seletiva porta a porta, estão principalmente nos bairros nobres, e não nas comunidades”, declarou.
A ação será planejada e viabilidade a partir de abril para ser implementada em junho, inicialmente com a distribuição de 50 a 100 PEVs. Em dezembro será feito o primeiro fechamento seguido por um ciclo de melhorias.
A proposta do Comitê é que tudo seja realizado da maneira mais simples possível a fim de garantir a adesão dos varejistas. Com isso, os PEVs, que serão pequenos e desmontáveis, serão entregues aos distribuidores, que os encaminharão, junto com suas entregas rotineiras aos varejistas selecionados. Com essa lista de pontos em mãos, o projeto organizará junto às cooperativas de catadores de materiais recicláveis o recolhimento semanal de todos os resíduos, triagem e encaminhamento para a destinação adequada.
Social
A vertente social enfatizou a Lei de Igualdade Salarial, tema que vem sendo muito debatido pelo setor na atualidade. Regida pela Lei nº 14.611 e regulamentada pelo Decreto nº 11.795 e pela Portaria MTE nº 3.714, a legislação ainda gera muitas dúvidas e questionamentos.
No último 8 de março, todas as empresas com no mínimo 100 funcionários foram obrigadas a compartilhar, no Portal Emprega Brasil, dados sobre os critérios remuneratórios da companhia. “A lei visa identificar, fiscalizar e corrigir questões de desigualdade salarial entre homens e mulheres. A grande questão é que sabemos que esse problema existe, mas será que ele foi proposto da forma ideal para podermos alcançar os objetivos da equidade de gênero?”, questiona Nathalia Trevilato Pilorz, advogada tributarista da Dessimoni & Blanco Advogados.
A especialista fez uma apresentação detalhada sobre os principais pontos da lei, como deve ser o preenchimento do formulário, quais as multas e penalidades para quem não compartilha os dados, e como definir se a melhor estratégia é divulgar ou não o relatório final preparado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Nathalia também tirou as dúvidas de como será feita a análise das diferenças salariais e quais os entraves que isso pode gerar. Entre os pontos por ela apresentados estão que existem diferentes fatores corporativos que podem justificar essa desigualdade. “Vamos supor que em um setor prioritariamente masculino, como o operacional, tenhamos mais homens que aceitem fazer hora extra. Isso gerará uma diferença salarial. Agora a dúvida que fica é por qual motivo as mulheres desse departamento não se sentem confortáveis em permanecer mais tempo no trabalho. Será que elas não se sentem seguras, por exemplo, na volta para casa? E isso seria uma responsabilidade da empresa ou algo social que deve ser reavaliado? A empresa deve ser penalizada?”, questionou.
A advogada apontou as inconsistências que a assessoria jurídica da ABAD identificou na legislação, como ações judiciais favoráveis, a questão da livre concorrência, pontos contraditórios e de ampla defesa e proteção de dados.
Na sequência, deixou algumas recomendações importantes: conferir se os cargos preenchidos no eSocial estão atualizados; colocar as regras de planos e salários no papel; criar um plano de ação para redução das disparidades que seja factível; em caso de um relatório que aponte desigualdades salariais, checar se a publicação de um relatório complementar que justifique essas desigualdades é uma boa opção; consultar sempre o jurídico da companhia para decidir sobre a publicação ou não dos relatórios.
Além do tema sobre a Lei de Igualdade Salarial, a reunião apresentou novidades sobre o Vidas Preciosas, projeto do Instituto ABAD que visa transformar a vida de crianças e adolescentes carentes do Brasil por meio do cricket. Confira detalhes AQUI.
Governança
O debate sobre governança foi conduzido por Dessimoni. Trazendo uma pesquisa baseada nas métricas do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), o especialista declarou que o setor atacadista distribuidor ainda é embrionário quando se pensa em estrutura de governança.
“Sentimos que a maioria dos respondentes continua em estágio embrionário, o que nos abre oportunidades para melhorias dentro da cadeia de abastecimento, mas acende um sinal de alerta de que talvez tenhamos de puxar ainda mais o mercado nesse sentido”, pontuou.
Segundo ele, são diversos os pontos que precisam ser analisados, como transparência, gestão de riscos, valorização da empresa e sustentabilidade a longo prazo.
Dessimoni enfatizou que um dos primeiros passos é implantar a cultura de governança por meio de processos bem desenhados. Para isso, é necessário quebrar as resistências de alguma forma. “O melhor exemplo que eu já vi foi o Profit, People e Planet (Lucro, Pessoas e Planeta na tradução livre para o português). Quando formos fazer qualquer ação na vida corporativa, devemos pensar: essa decisão impacta as pessoas, o planeta e o lucro da companhia?”, compartilhou.
Para o presidente da ABAD, essa é uma questão emergencial. “Hoje, adotar métricas de governança é questão de adaptação das empresas. Quem não se adaptar pode não estar condizente nem com o presente, nem com o futuro”, finalizou.
O Comitê ESG da ABAD apresentará seus entendimentos durante a Convenção ABAD 2024, marcada para junho em Atibaia (SP).