A palestra magna da 6ª Convenção Nacional do Grupo ABAD Jovens e Sucessores foi comandada por Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário, que apresentou o histórico da companhia através de uma linha do tempo e enfatizou dois importantes pontos para a construção de uma empresa sustentável e eficiente: metaplanejamento e foco nos valores.
Logo no início de sua apresentação, Modé reforçou um conceito que vem sendo muito utilizado no mundo dos negócios e que remete ao Mundo VICA (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). Segundo o executivo, hoje vivemos essa realidade onde tudo muda muito rápido, o que exige, das corporações, uma ampla capacidade de adaptação. “Em um mundo volátil como o que enfrentamos hoje, o ponto de chegada sempre é móvel. Por isso devemos nos fixar naquilo que não muda: os valores que nos trouxeram até aqui e que nos levarão adiante”.
O tema está totalmente vinculado à temática principal do evento, que são estratégias de sucessão, onde é preciso ajustar as expectativas tanto dos sucessores quanto daqueles que são sucedidos. Esse, aliás, foi um dos assuntos abordados por Modé durante a palestra. Na ocasião, o CEO do Grupo Boticário mencionou a importância de dar a devida atenção aos dois lados.
“A mudança de geração sempre é um ponto crítico. Programas bons de sucessão são aqueles que preparam o sucessor, mas também o sucedido, encontrando, para ele, um novo espaço para sua trajetória dentro da empresa”, mencionou.
Ainda falando sobre esse processo de mudança de liderança natural das empresas familiares, o executivo apresentou duas realidades por ele já vividas. Aquela onde quase não há conflitos, onde as relações são bem consolidadas, e aquela onde os conflitos existem, são fortes e carecem de cuidado. Para ele, empresas mais antigas tendem a sofrer mais com a troca geracional.
“No Grupo Boticário temos características que nos ajudam como, por exemplo, acionistas de primeira geração com o mesmo ponto de partida e envolvimento emocional dos fundadores. Normalmente, quando chegamos à terceira ou quarta gerações, o que muitas vezes chamamos de ‘confraria dos sobrinhos’, surgem novos problemas tanto pela quantidade de pessoas envolvidas quanto pelo distanciamento do propósito inicial”, explicou.
Planejamento e estratégia
Modé defende que cada empresa precisa entender seu próprio contexto para avaliar as necessidades e elaborar o planejamento estratégico mais adequado ao seu cenário, porém, para o executivo, planejar é diferente de pensar. “Diferente do planejamento, que será elaborado periodicamente, o pensamento estratégico é rotina diária e não deve ficar marcado por um ciclo que foca o futuro”, disse.
No Grupo Boticário, especificamente, o planejamento estratégico é, segundo Modé, monolítico e blocado a cada três anos. “Assim, olhamos para trás para ver o que funcionou nos últimos anos e, então, programar mais 36 meses com os melhores ajustes”, disse. Porém, esse mesmo planejamento é revisitado anualmente e debatido duas vezes ao ano em encontros que recebem todas as lideranças da companhia.
É o que o executivo chama de metaplanejamento. “Falamos muito sobre a capacidade empresarial de se adaptar e de ter domínio sobre as características do negócio. Por isso o metaplanejamento é muito importante. Temos, no geral, vários planejamentos estratégicos que precisamos convergir em um só”, pontuou.
Mesmo com tudo planejado, é natural surgirem ruídos, e Modé exemplifica ao falar sobre como o olhar voltado ao consumidor – e ao que ele busca – pode gerar desconfortos entre os canais. “Mas é preciso lembrar que o consumidor não enxerga esse conflito, ele enxerga apenas a conveniência. E quando decidimos seguir o consumidor, sabemos que enfrentaremos esse problema que não é solucionável, mas é gerenciável”, explica.
A 6ª edição da Convenção Nacional do GAJS foi realizada em 26 de novembro no Clube Monte Líbano, em São Paulo, e reuniu renomados profissionais e multiplicadores de informações apresentando visões sobre questões de grande importância para o jovem sucessor do setor atacadista e distribuidor.
