A segunda reunião do Comitê Logística da ABAD, realizada em São Paulo na manhã de 28 de fevereiro, deu continuidade aos debates sobre como otimizar a logística do setor a fim de atingir as principais metas de eficiência. O encontro, comandado pelo coordenador do comitê, Giuseppe Lotto, reuniu representantes de agentes de distribuição e de empresas. O presidente da ABAD, Leonardo Miguel Severini, também esteve presente para compartilhar suas percepções e experiências acerca do tema.
Em novembro, os membros do comitê se reuniram para o primeiro encontro que teve, como objetivo principal, discutir o futuro da transformação digital nas operações logísticas. Neste segundo encontro, o time se aprofundou naqueles temas vistos como principais e promoveu duas rodadas focadas em debater se o melhor caminho é automatizar ou humanizar e se há mais eficiência na gestão interna ou na terceirização.
Ao longo de sua apresentação, Lotto enfatizou que não existe uma solução única para todas as empresas. “Não há solução absoluta que seja a melhor. Em cada uma, há pontos fortes e pontos fracos. A contribuição do nosso comitê é, justamente, indicar critérios para que cada operação possa analisar os cenários e encontrar a sua escolha”, disse.
Automação ou Pessoas?
O primeiro debate girou em torno da automação. Será que automatizar processos investindo na adesão tecnológica para isso é a melhor escolha? Para Lotto, a automação permite a simplificação da gestão administrativa, a aceleração operacional e o maior nível profissional dos operadores. Em contrapartida, uma logística centrada no capital humano traz flexibilidade com menos restrições em caso de mudanças nas características do negócio e maior disponibilidade financeira voltada ao core business das corporações.
Dentro de toda essa discussão, para o coordenador, o que é indispensável é a gestão de dados. “Independentemente da escolha da empresa, é indispensável investir em gestão de dados. Informação é a base da estratégia e a inteligência artificial nos permite, a partir desses dados, tomar decisões. Assim, a gestão das informações é central”, comentou.
Severini compartilhou, então, uma dica estratégica com os presentes: tecnologia é o meio, não o fim. “Muita gente por vezes se encanta com a tecnologia e acaba se prejudicando. Por isso sempre sugerimos que o dono da empresa esteja diretamente ligado ao gestor logístico, que é quem gere o maior custo da empresa, equivalente ao custo de produção”, disse o presidente.
Outro ponto que transcende a escolha entre automatizar ou não os processos, está na necessidade contínua de capacitação e no olhar para o ser humano. Para André Cardoso, Country Manager da CHEP Brasil, esse é o melhor caminho. “Independentemente da decisão, é preciso treinar as equipes. Além disso, pensamos muito em capex e opex, mas precisamos pensar em gente. Automatizamos, por exemplo, para que ninguém no futuro manuseie o pallet e, assim, volte para casa em segurança, sem enfrentar acidentes”, declarou.
De fato a capacitação se mostra imprescindível, principalmente em um cenário onde mudanças acontecem continuamente. “A gente sabe a dificuldade que é encontrar um motorista capacitado para esse mercado. Isso porque os caminhões têm cada vez mais tecnologia embarcada”, declara Anderson Pires de Sousa, especialista de serviços da Volkswagen Caminhões e Ônibus. Pensar em pessoas é entender, também, que mesmo profissionais com 30 anos de estrada precisam ser convencidos a se atualizar para acompanhar o desenvolvimento do mercado, o que nem sempre é uma tarefa simples.
Por fim, o grupo retornou ao pensamento de que a escolha pela automatização não deve ser automática, mas sim pensada para cada empresa e para cada situação específica. Adriana Firmo, vice-presidente Comercial da Kion Group, comenta que a marca vem buscando “estabelecer soluções simples para problemas complexos”. “Quarenta e cinco porcento dos nossos clientes são da área de atacado e varejo; no mercado de movimentação de materiais, 43% está em máquinas a combustão e 57% em máquinas elétricas, sendo que essas são, em sua maioria, para movimentação interna de armazéns. Com isso, vemos que o pequeno distribuidor tem a tendência de pensar nessas soluções”, pontuou.
Gestão Interna ou Terceirizada?
Após o coffee break, o grupo retornou para falar sobre gestão interna ou terceirização dos processos logísticos. “O sucesso está em entender qual a melhor escolha para cada situação”, mencionou Lotto ao abrir a segunda rodada de debates.
Os participantes, então, passaram a compartilhar experiências. Tiago Moreira Valença Saad, CEO da Fusion Software, fez uma observação do ponto de vista tecnológico. “O que vejo no mercado atacadista distribuidor é que o core business é o comércio, mas a logística é um grande diferencial competitivo. Independentemente se é frota própria ou terceirizada, o importante é o controle. É mais difícil controlar frota terceira, mas é possível”, disse.
O grupo concorda sobre a importância da gestão independentemente da escolha pelos processos internos ou externos. “Tem que ter controle e gestão do negócio. Para a logística própria, tem que ter uma estrutura de motoristas, auxiliares e até mesmo uma torre de controle. Para terceirizar, tem que ter cuidado para não perder a qualidade”, mencionou Anderson Pires de Souza, da Volkswagen. Um dos problemas da perda de controle está no desperdício. Segundo Saad, 40% do tempo dos veículos é improdutivo, estando ou parado, ou retornando vazio.
Como fazer a escolha? O caminho sugerido está em avaliar exatamente cada etapa para entender onde pode haver melhoria. Além disso, entender qual o nível de maturidade de cada empresa. “Se estivermos maduros, vamos para a terceirização. Se não for o momento, pode-se pensar em fazer uma terceirização gradativa até que se sinta mais seguro”, disse Gustavo Henrique Correia, diretor da Stampa Pet and Food.
Foi o que a Spader Distribuidora fez ao ter uma parte própria e outra terceirizada. “Terceirizamos o armazém por entender que cuidar de equipamento frio e segurança de condomínio não faria sentido. Terceirizar essa parte facilitou nosso crescimento”, contou Rafael Spader.
Próximos passos
A próxima reunião do Comitê Logística está marcada para abril, quando será realizada uma apresentação que consolida todos os apontamentos obtidos ao longo da manhã deste 28 de fevereiro. “Hoje aproveitamos a oportunidade para compartilhar assuntos, entender posições e observar experiências. Na sequência, entrarei em contato individual com cada um para novos apontamentos e, então, construiremos um material bastante robusto para ser compartilhado na 43ª Convenção Anual do Canal Indireto, marcada para junho em Atibaia (SP)”, declarou Lotto.
Lembrando que teremos cerca de mil pessoas reunidas na convenção, Oscar Attisano, superintendente da ABAD, parabenizou os presentes pelo profundo debate. “Hoje tivemos uma evolução e conseguimos adquirir bastante massa crítica”, disse.
Antes de encerrar o encontro, Lotto se colocou à disposição de todos os participantes para a abertura de novos temas que julgassem importantes dentro do Comitê de Logística, mostrando que o grupo está em contínua manutenção dos assuntos que regem a atualidade.