CNC: 30% dos saques do PIS serão destinados ao consumo

A liberação de R$ 34,3 bilhões em recursos do PIS/Pasep deve se reverter em R$ 10,3 bilhões para consumo no varejo, segundo cálculos do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, feitos a pedido do Valor. O volume é proporcionalmente maior (30% contra 25%) do que chegou ao comércio após os saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no primeiro semestre do ano passado.

A CNC diz que R$ 11 bilhões, de R$ 44 bilhões do FGTS, foram destinados ao consumo. Segundo Bentes, as vendas de veículos e de materiais de construção devem ter impulso. “Essa diferença se dá basicamente por conta do comprometimento de renda menor neste início de ano”, diz Bentes. Segundo o Banco Central, o comprometimento de renda das famílias, excluindo-se os financiamentos imobiliários, ficou em 17,8% em março deste ano, último dado disponível, contra 19% um ano antes. “Tudo indica que o indicador vai chegar a 17% no início do segundo semestre”, diz. Ainda de acordo com Bentes, a expectativa é que o dinheiro extra resulte em aumento de 1,8% nas vendas do varejo ampliado no bimestre agosto-setembro, com ajuste sazonal, ante os dois meses imediatamente anteriores.

Para Bentes, o efeito do PIS/Pasep é benéfico, mas é o cenário conjuntural mais favorável que vai determinar um resultado melhor do varejo. “Por um lado, a economia não está produzindo os resultados esperados. Mas a inflação e os juros continuam baixos, e o mercado de trabalho, embora um pouco decepcionante, está melhor do que no ano passado. O quadro de 2018 é mais favorável às condições de consumo do que em 2017”, diz.

INFLAÇÃO – A greve dos caminhoneiros e a conta de luz provocaram forte alta de 1,1% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) em junho, maior avanço para o mês desde 1996 (1,1%). Em maio a taxa foi de 0,14%. Somadas, as altas dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da tarifa de energia foram responsáveis por 0,91 ponto percentual (83%) do indicador de junho. Apesar da pressão, os efeitos da greve sobre o índice tendem a ficar circunscritos a maio e junho, sem preocupações adicionais para a inflação dos meses seguintes, segundo avaliam economistas.

CONFIANÇA – Os efeitos negativos da paralisação dos caminhoneiros também levaram a confiança industrial a sinalizar, em junho, a queda mais intensa em quase três anos. É o que mostrou a Fundação Getulio Vargas (FGV) na prévia da Sondagem da Indústria no mês. O resultado preliminar do Índice de Confiança da Indústria (ICI), calculado pelo seu Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), mostrou queda de 1,4 ponto entre maio e junho, para 99,7 pontos. Se confirmado, seria a taxa negativa mais intensa desde outubro de 2016 (-1,8 ponto). Mas a magnitude do recuo não indica necessariamente tendência negativa do indicador para os próximos meses, afirmou Tabi Thuler, coordenadora da pesquisa. Na prática, o indicador já apresenta, em junho, intensa volatilidade, por conta da proximidade da corrida presidencial, que confere maior incerteza ao cenário político e de condução de política econômica.

EMPREGO – O país registrou em maio a criação de 33.659 vagas com carteira assinada. Embora represente o quinto mês seguido de saldo positivo, a geração de postos de trabalho é a mais baixa alcançada em 2018 até agora. Os dados de maio foram divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e mostram que, nos quatro primeiros meses do ano, os saldos haviam sido mais elevados. Foram criadas 77.822 vagas em janeiro, 61.188 em fevereiro, 56.151 em março e 115.898 em abril.

COPOM – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central comunicou que decidiu manter os juros básicos em 6,5% ao ano em reunião encerrada às 18h. A decisão foi unânime. “Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente”, informou o Copom, em nota. “O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, acrescentou o colegiado. O Copom reitera, ainda, que “a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”.

PIB 1 – O Monitor do PIB, da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta crescimento de 0,1% da atividade econômica no mês de abril, em comparação ao mês de março e retração de 0,4% no trimestre findo em abril, em comparação ao trimestre findo em janeiro, diz a FGV em relatório. Ambas as taxas foram calculadas na série livre de efeitos sazonais. Na comparação interanual, a atividade econômica cresceu 2,9% no mês de abril e 1,3% no trimestre móvel findo em abril. O resultado da comparação com o mesmo mês no ano anterior foi fortemente influenciado pelos três dias úteis a mais no mês de abril deste ano, diz a FGV. Já o crescimento de 0,1% na comparação com março revela “certa estagnação”, na avaliação da FGV.

PIB 2 – Depois da retração em março, a atividade econômica mostrou reação em abril, segundo dados compilados pelo Banco Central (BC) no seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br). O indicador mostrou variação positiva de 0,46%, após queda de 0,51% em março (dado revisado de recuo de 0,74%). Com a revisão dos dados, o IBC-Br do primeiro trimestre saiu de contração de 0,13% para leve alta de 0,03%. Em comparação com primeiro trimestre de 2017, o crescimento foi estimado em 0,83%, após leitura inicial de 0,86%. Devido às revisões constantes do indicador, o IBC-Br medido em 12 meses é mais estável do que a medição mensal, assim como o próprio Produto Interno Bruto (PIB). Em comparação com abril de 2017, o índice registrou alta de 3,7% na série sem ajuste. No ano, houve incremento de 1,55%.

CONSUMO – A paralisação dos caminhoneiros levou a intenção de consumo das famílias em junho ao mais baixo patamar em cinco meses. O indicador da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) registrou recuo de 0,5% entre maio e junho, para 86,7 pontos, o menor nível desde janeiro de 2018 (83,6 pontos). Para Antonio Everton Chaves Junior, economista da CNC, o efeito da paralisação, que causou problemas de desabastecimento em todo o país, aliado ao atual momento do dólar em alta, levaram ao resultado. Os dois fatores tornaram produtos mais caros, o que acabou por elevar acautela com os gastos.

CRÉDITO – A demanda das empresas por crédito recuou 7,9% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o Indicador Serasa Experian de Demanda das Empresas por Crédito. Foi a primeira queda, nos últimos oito meses, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Na comparação com abril, a procura dos empresários por crédito caiu 2,1%. Com esses resultados, a expansão da demanda empresarial por crédito subiu 2,9% no acumulado dos primeiros cinco meses de 2018. De acordo com os economistas da Serasa Experian, se a paralisação dos caminhoneiros nos últimos 11 dias de maio não causou impactos significativos sobre a procura dos consumidores por crédito, o mesmo não pode ser dito a respeito da demanda empresarial por algum tipo de financiamento, diz o relatório.

 

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