A melhora do cenário da pandemia no Brasil à medida que avança a vacinação em todo o país levou a confiança dos empresários dos setores de comércio e serviços a patamares que não eram atingidos desde bem antes da chegada da covid-19 ao país. O Índice de Confiança do Comércio (Icom), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), atingiu em julho 101,0 pontos, o nível mais alto desde os 102,3 pontos de janeiro de 2019. Já o Índice de Confiança dos Serviços (ICS), também divulgado hoje pelo FGV Ibre, teve a quarta melhora seguida em julho, quando atingiu 98,0 pontos, maior patamar desde os 98,3 pontos de março de 2014.
“A grande sinalização dos resultados, é o que os empresários têm enxergado a luz no fim do túnel cada vez mais perto. A questão é dar continuidade a isso”, afirma Rodolpho Tobler, economista do FGV-Ibre, lembrando que tanto no comércio quanto nos serviços a melhora está ligada à redução das medidas de restrição na medida em que cai a contaminação por covid-19 na esteira da vacinação.
Apesar de mostrarem altas expressivas, a confiança de comércio e a de serviços apresentam peculiaridades distintas. O Icom foi puxado pelo Índice da Situação Atual (ISA), que atingiu 108,7 pontos, maior nível desde os 110,2 de dezembro de 2010. No Índice de Expectativas (IE), a confiança do comércio ainda mostra algum pessimismo, com 93,2 pontos.
Tobler destaca que o comércio tem se beneficiado nos últimos meses das medidas de flexibilização e também sofre os efeitos positivos da liberação de recursos do auxílio emergencial, que mesmo em valor menor que no ano passado, favorece a dinâmica do setor. O economista do Ibre FGV pondera que essa melhor do comércio é expressiva mesmo se for considerado o efeito de comparação. “O empresário enxerga uma situação atual muito favorável porque passou nos últimos meses por um momento muito ruim.”
“Mesmo assim, é muito relevante [o patamar da situação atual], que está em um nível acima da pré-recessão de 2014. O grande ponto para o setor é a continuidade”, diz.
Segundo ele, as expectativas seguem mais baixas que a percepção sobre a situação atual porque ainda há uma dificuldade dos empresários em acreditar que os próximos meses presenciarão uma situação boa como a atual. E aí há um cruzamento com os serviços: a perspectiva de ampliação das medidas de flexibilização anima as expectativas para o setor de serviços, mas faz o comércio entender que haverá uma “concorrência” nos próximos meses, o que pode fazer que parte da atual demanda por bens migre para os serviços no futuro próximo.
Até por isso, os 98,0 pontos da confiança dos serviços em julho foram puxado pelas expectativas. Dentro do ICS, o Índice de Expectativas subiu para 105,6 pontos, maior patamar desde os 106,2 pontos de novembro de 2012, enquanto o Índice de Situação Atual marcou 90,4 pontos, voltando ao mesmo nível de novembro de 2020, portanto pré-pandemia.
“O setor de serviços é o que mais sofre com as medidas restritivas, mas nos últimos meses há medidas muito positivas [para ele], o que influencia principalmente a expectativas”, diz Tobler.
O economista do FGV Ibre destaca que dentro dos cinco grandes grupos do ICS, o de serviços prestados às famílias é o que mostra melhor mais expressiva. Depois de recuar 18,9 pontos entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020, o resultado de julho significou um avanço de 23,1 pontos na comparação com dezembro do ano passado. O pesquisador reforça que os dados são dessazonalizados e, por isso, comparáveis. O segundo serviço que mais cresceu entre dezembro e julho foi o de serviços profissionais, que subiram 15,2 pontos. O setor, como um todo, avançou 11,8 pontos.
“Vemos um crescimento de ímpeto. Mas esse ímpeto ainda está nas expectativas e precisa ser confirmado nos próximos meses na situação atual”, diz Tobler.
Fonte: Valor online