As vendas do varejo vieram bem menores que o esperado, tanto no conceito restrito quanto no ampliado, o que mais uma vez prova o caráter oscilante da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE. Em setembro, o comércio restrito caiu 1,3%, ante uma expectativa de queda de apenas 0,2%, enquanto o ampliado recuou 1,5% para uma aposta de recuo de 0,5%.
Em setembro, o varejo devolveu uma parte da forte alta registrada em agosto na comparação com julho, de 2% no restrito e de 4,2% no ampliado, variações que, por sua vez, também surpreenderam ao ficar bem acima do esperado.
Analistas têm destacado nos últimos tempos a dificuldade adicional de prever as oscilações da atividade num ano conturbado como o de 2018, em que a perspectiva positiva dos primeiros meses foi reduzida diante de um cenário externo mais difícil e das incertezas do período eleitoral.
A greve dos caminhoneiros em maio embaralhou ainda mais as previsões para a economia. Olhando numa perspectiva mais longa, o comércio em seu conceito ampliado mostra perda de força desde abril, quando acumulou alta de 7%. Agora em setembro, o crescimento desacelerou para 5,8%. O restrito, que alcançou seu ponto mais alto em março, com alta de 3,8%, cedeu a 2,8% nos 12 meses até setembro.
Apesar dos percalços, o comércio, salvo um quarto trimestre muito ruim, deve ir melhor que em 2017, ano que teve o benefício da liberação dos bilhões das contas inativas do FGTS. Em 12 meses até setembro de 2017, o restrito acumulava queda de 0,7% e o ampliado recuava 0,1%. No ano até setembro, as altas eram de 1,3% e 2,7% em 2017. Em 2018, as variações são mais altas de janeiro a setembro: 2,3% e 5,2%. respectivamente.
Há um ganho inegável no setor. Mas a recuperação, de qualquer forma, tem sido mais lenta que o esperado e o fraco crescimento da massa salarial — dado por uma criação de empregos ainda calcada majoritariamente no mercado informal —, certamente é um obstáculo para números mais animadores no comércio.
INADIMPLÊNCIA – O volume de consumidores brasileiros com contas em atraso e registrados em lista de devedores voltou a crescer em outubro e acelerou frente o mês anterior. De acordo com dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a quantidade de inadimplentes cresceu 4,22% no mês de outubro na comparação com igual mês do ano passado. Em setembro deste ano, frente a 2017, a alta havia sido de 3,86%. Em números absolutos, estima-se que 62,89 milhões de brasileiros estejam com o CPF restrito para fazer compras a prazo ou contratar crédito. O aumento da inadimplência foi puxado, principalmente, pela região Sudeste, cuja alta observada em outubro foi de 13,30%. Nas demais regiões, as altas foram menos intensas como 5,31% no Norte; 4,11% no Sul; 3,91% no Nordeste e 1,61% no Centro-Oeste.
INFLAÇÃO – O aumento dos combustíveis e a alta dos preços dos alimentos foram os principais responsáveis pelo avanço de 0,45% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em outubro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa ficou abaixo daquela apurada em setembro, mas foi a maior para o mês desde 2015. Responsável por um quatro dos gastos das famílias brasileiras, a inflação do grupo de alimentação e bebidas foi de 0,59%, acelerando na comparação com os 0,10% do mês anterior. Dessa forma, contribuiu com 0,15 ponto percentual para o IPCA de outubro.
ENDIVIDAMENTO – A parcela de renda familiar comprometida com dívidas mostrou em outubro menor patamar em cinco meses. A pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostrou estabilidade na fatia de famílias que se declararam endividadas entre setembro e outubro, em 60,7%, e abaixo do observado em outubro do ano passado (61,8%). Já o percentual da renda domiciliar voltado para quitação de débitos diminuiu de 29,6% para 29,5% no mesmo período, também inferior ao de outubro do ano passado (30,8%) – além de ser o menor desde maio deste ano (29,3%). Na prática, as famílias estão com maior cautela em tomar novos empréstimos, devido ao já elevado patamar de endividamento; e a ausência de sinais mais robustos de recuperação no mercado de trabalho, avaliou Marianne Hanson, economista da CNC.
EMPREGO – O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), calculado pela Fundação Getulio Vargas, (FGV) recuou 0,2 ponto em outubro, para 90,8 pontos. Esse é o oitavo mês consecutivo de queda do indicador, que retorna ao patamar de dezembro de 2016 (90 pontos). Três dos sete indicadores que compõem o IAEmp contribuíram positivamente para o aumento do índice, com destaque para o indicador que mede o emprego local futuro da Sondagem do Consumidor, que aumentou 8,1 pontos entre setembro e outubro. “O IAEmp teve mais um recuo, mostrando a continuação do processo de ajuste de expectativas. O recuo do IAEmp mostra a reversão do otimismo quanto ao dinamismo da atividade econômica que teve desempenho abaixo do esperado em 2018. Além disso, ainda existe a incerteza quanto ao crescimento em 2019. ”, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da FGV, em comentário no relatório.