Eles já somam algo em torno de 65 mil estabelecimentos entre um e quatro checkouts e, de acordo com a pesquisa “Mercado de Vizinhança – uma visão 360 graus do pequeno supermercado”, realizada pela GFK, o segmento composto pelos mercados de vizinhança, responde por mais de 40% do volume de vendas em alimentos, higiene e limpeza e perfumaria, e vem registrando taxas de crescimento acima do supermercadista nos últimos anos.
O varejo de vizinhança, juntamente com o atacarejo, é o formato que mais cresce no segmento supermercadista no Brasil. A afirmação é de Rodrigo Catani, head de Eficiência Operacional da AGR Consultores. Segundo ele, esse é o formato que mais tem exigido esforço das redes, pois o grande número de lojas abertas em um curto espaço de tempo fez com que as áreas de expansão tivessem um trabalho grande em identificar os pontos, negociar contratos e montar as lojas. “O varejo de vizinhança trouxe elementos importantes como a proximidade, a conveniência e a praticidade na hora de fazer compras, além de fortalecer o “grab-and-go”, ou seja, alimentos e bebidas prontos para levar e consumir a caminho de casa ou do trabalho. Principalmente nas grandes metrópoles, veio ao encontro da busca do consumidor por soluções práticas sem ter que arcar com os elevados custos das lojas de conveniência”, diz Catani.
A conveniência é, sem dúvida, um dos mais sólidos pilares que apoiam e dão suporte ao varejo de vizinhança e isso deve aumentar ainda mais sua relevância para o consumidor brasileiro. Para Olegário Araújo, diretor da Inteligência de Varejo, fatores como o envelhecimento da população, que tende a acelerar, tornando a população de idosos mais representativa na sociedade e demandando necessidades e desejos como do de realizar suas compras perto de casa, devem impulsionar ainda mais o segmento.
“Temos apenas que ficar atentos porque há cidades, como as litorâneas, que a população residente idosa é expressiva. Em muitas destas cidades, os empresários já aprenderam a lidar com uma população residente mais idosa e uma população flutuante (férias, verão) mais jovem”, diz. Para ele outro fator a ser considerado são os lares menores, tanto pelo envelhecimento como por pessoas maduras que moram sozinhas ou casais sem filhos. “Os lares vão se transformando e estes grupos demandam mais conveniência”, comenta Araújo.
O trânsito caótico das grandes cidades vem somar a esta lista de fatores, uma vez que compromete a mobilidade. Resumindo o sucesso do varejo de vizinhança pode ser atribuído a conveniência, a um mix de produtos e à oferta de serviços adequados à situação de compra ou necessidade do consumidor. O professor Nuno Fouto, diretor Vogal do IBEVAR lembra ainda que o tempo passou a ser um recurso valioso para o consumidor. “Os deslocamentos para fazer as compras em grandes formatos, mesmo dentro dessas lojas só é considerado razoável em grandes compras com muitos itens diferentes e menos frequentes”, diz.
E quando o assunto é mobilidade vale reforçar que o consumidor tem optado por compras menores e mais frequentes, feitas muitas vezes a pé. “Fazer compras em um supermercado grande ou em um hipermercado, é pouco prático e demanda muito tempo. A loja de vizinhança veio atender essa necessidade, especialmente nas grandes cidades”, reforça Catani.
Mudança de cenário
É notório que o varejo de vizinhança promoveu grandes mudanças no cenário supermercadista no Brasil. Embora o volume de vendas representada pelos grandes players, a realidade do varejo brasileiro ainda é melhor representada pelo varejo de vizinhança. “Mais próximos do consumidor, tanto na questão física, quanto na questão de atendimento, acabam sendo tradicionalmente melhores em termos de experiência, principalmente quando ainda recebidos pelo “dono” do negócio. Nem sempre mais baratos, focam na praticidade e comodidade que podem oferecer a seus consumidores”, avalia Caio Camargo, sócio diretor da GS&UP. Para ele, a valorização imobiliária fez com que ficasse cada vez mais difícil para um formato de médio ou grande porte conseguir se inserir dentro de um bairro. “Como há cada vez menos espaços que ainda não tenham sido ocupados nas grandes avenidas e vias arteriais da cidade, reduzir o formato para entrar nos bairros foi uma saída encontrada pelos grandes players para se aproximar dessa importante fatia de consumidores” diz.
Caminhos para o futuro
Estamos assistindo a uma transformação do mercado que vem possibilitando que as empresas explorem novas possibilidades e segmentos dentro de seu próprio contexto. “A inovação desse mercado hoje consiste em encontrar novos tipos de produtos e serviços que possam ser oferecidos junto ao negócio, sem qualquer resistência à novas fronteiras, até porque concorrentes incomuns começam também a aparecer, como barbearias se especializando na venda de cervejas especiais, lavanderias vendendo produtos de limpeza, academias com verdadeiros mini mercados de produtos naturais ou voltados à linha fit”, retrata Camargo. Para o especialista o varejo de vizinhança também tende a apostar cada vez mais na oferta de serviços mais completos, como refeições mais frescas ou saudáveis, abandonando de vez a comida industrializada ou alimentos pré-preparados como forma de atrair mais consumidores. “Há também a questão do autosserviço, que pode ser amplificada por modelos onde o consumidor possa também pagar sem a necessidade de se passar em um caixa, algo que começa a engatinhar no Brasil com a presença de alguns caixas de auto pagamento, mas que podem ainda serem aperfeiçoados por novos modelos digitais, como fora apresentado pela Amazon e seu modelo de loja autônoma, a Amazon Go”, comenta.
O futuro do varejo de vizinhança passa ainda por aquela premissa de que é preciso conhecer o perfil e as necessidades do cliente e mais do que isso, caberá ao varejista adequar sua operação à comunidade, ajustando o sortimento para atender perfis específicos. “O formato precisa se preparar para atender este cliente de forma personalizada e ter uma loja agradável (organizada, limpa e que seu sortimento esteja adequado as tendências relacionadas com saúde e conveniência)”, finaliza Araújo.
Desafios e tendências
Para Rodrigo Catani os maiores desafios que o varejo de vizinhança enfrenta hoje, são:
- Encontrar boas localizações nas regiões metropolitanas a custos compatíveis com a receita e lucratividade de uma loja deste porte
- Identificar as pessoas com o perfil adequado para trabalhar nesse formato de loja, em que geralmente o funcionário é menos especializado e mais multifuncional
- Acertar o sortimento adequado a cada cluster de lojas ou a cada loja individual. Cada região ou perfil de loja irá demandar sortimento específico.
Tendências
Catani também relaciona as maiores tendências que devem delinear o futuro do varejo de vizinhança:
- O abastecimento noturno de grandes fornecedores e dos Centros de Distribuição das redes, deixando o abastecimento diurno apenas para os perecíveis e pequenos fornecedores;
- Introdução de self-checkouts, que irão facilitar o ato de pagar as compras e reduzir as filas;
- Etiquetas eletrônicas de preços, que irão facilitar o processo de alterar os preços ao longo da semana ou mesmo durante o dia, para os diferentes momentos de consumo, ou até mesmo para minimizar perdas no fim do dia;
- Redução das áreas de armazenagem e ampliação das áreas de exposição, o que vai demandar uma eficiência maior ainda nas compras e na logística;
- Sortimento variado ao longo da semana. Por exemplo, oferecer kits de churrasco faz sentido na véspera de feriados ou às sextas-feiras, mas na segunda-feira deveria dar lugar a outros produtos;
- Aumento na oferta de perecíveis e alimentos prontos, produtos que atraem o consumidor e ao mesmo tempo são geradores de margem.
Fonte: Portal Newtrade